Nesse post, abordamos um assunto que traz muitos questionamentos aos estudantes de Administração, Negócios, Relações Internacionais e cursos afins: as possibilidades de atuação na área de Consultoria Internacional. Para sanar algumas dúvidas e falar sobre oportunidades, entrevistamos Glaucia Noronha, consultora sênior no Boston Consulting Group (BCG), um dos maiores grupos de consultoria empresarial do mundo.
A Glaucia é bacharel em Relações Internacionais (RI) pela UFRGS e atua no setor privado desde 2013. Nessa entrevista, ela nos conta um pouco sobre sua trajetória, como foi a seleção para entrar no BCG, como é seu trabalho atualmente e, claro, dá dicas preciosas para os alunos de RI que buscam oportunidades profissionais no setor privado. Confere!
1. Qual é a sua trajetória no setor privado como profissional de Relações Internacionais?
Com exceção de um breve período me dedicando à pesquisa na Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, posso dizer que minha trajetória profissional inteira foi no setor privado. Fiz dois estágios durante a graduação em Porto Alegre, ambos em empresas, e, após me mudar pra São Paulo, trabalhei em grandes empresas por aqui.
Comecei estagiando numa consultoria pequena que prestava serviços de assessoria para câmaras de comércio internacional e num grande grupo varejista do Rio Grande do Sul. Mudei para São Paulo como trainee do Itaú BBA e, por último, estou no BCG há mais de três anos. Gosto muito de fazer projetos para o terceiro setor, ONGs ou governos, mas de dentro da Consultoria.
Evento do BCG em São Paulo (Fonte: Facebook BCG in Brazil)
2. Por que você se interessou pelo BCG?
Conheci o BCG a partir de alguns colegas das Relações Internacionais, que haviam começado a trabalhar com consultoria logo após a graduação. A partir daí, fui nas palestras de recrutamento que o BCG fez na UFRGS e confirmei meu interesse. O que me chamou a atenção, principalmente, foi a possibilidade de fazer projetos em diversas indústrias e desenvolver rapidamente habilidades que numa carreira fora de consultoria eu demoraria anos para alcançar (Ex.: habilidades de apresentação, facilitação de reuniões, modelagem etc.). Além disso, me chamou a atenção o fato de ser aberto a qualquer formação.
3. De que forma você entrou no BCG (estagiária, efetiva, etc) e como foi o processo de seleção?
Entrei no BCG como Associate, que é o cargo de entrada para recém-formados ou pessoas com experiência efetiva de poucos anos. O processo seletivo ocorre duas vezes por ano e é composto de uma prova online de matemática e raciocínio lógico inspirada no GMAT (prova de admissão no MBA, com matemática de nível Ens. Médio), um estudo de caso com perguntas de múltipla escolha e dois rounds de duas entrevistas cada.
As entrevistas têm um formato bastante particular, pois simulam um caso de negócios real que o entrevistado resolve junto com o entrevistador.
Aconselho aos interessados se preparar com antecedência para o processo, tanto para as provas quanto para as entrevistas.
4. Quais soft skills mais contaram para você ser selecionada?
Uma skill “mais ou menos soft” que conta bastante é estar preparado para as entrevistas. Existem clubes de consultoria e comunidades online para praticar os casos no modelo dos que são apresentados nas entrevistas, e preparação, como disse, é muito importante. Além disso, saber se comunicar bem e contar a própria história/trajetória de maneira articulada conta muito para qualquer entrevista.
5. O que você diria que conta mais para se dar bem em uma consultoria internacional: conhecimentos técnicos ou habilidades interpessoais ?
Como os projetos são em áreas muito variadas, os conhecimentos aplicados também mudam muito dependendo da situação.
De forma geral, o que mais levo das habilidades desenvolvidas durante a graduação em Relações Internacionais é a capacidade de abordar problemas pelas diversas óticas que o cercam: organizacional, econômica, financeira, regulatória etc.
Em um projeto mais específico, trabalhei na reestruturação de um governo, incluindo sua estrutura de comitês, secretarias e gabinetes. Neste caso, sem dúvida, entender como um governo funciona e boas noções de Ciência Política ajudaram na tarefa. Em outro projeto, precisei quantificar os efeitos de uma mudança regulatória, guiada por um tratado internacional, no negócio da empresa. Neste caso, entender o contexto, linguagem e estrutura deste tipo de tratado também foi bastante importante. Contudo, nem todos os projetos têm esse “quê” de Relações Internacionais.
6. Para quem está saindo da faculdade e procurando emprego no setor privado, quais tipos de empresa você indicaria para ganhar experiência?
Não sei se tem um tipo de empresa específico. A indicação que eu dou é ampliar o escopo de setores/empresas buscadas. São poucos os trabalhos que são restritos a quem se formou em um curso específico e as empresas cada vez mais estão se dando conta disso.
Minha equipe no projeto atual, por exemplo, é formada por quatro pessoas de backgrounds bastante diversos: eu de Relações Internacionais, meu gerente é formado em Veterinária, e tem mais dois membros dos EUA, um da Administração e outra formada em História. Essa é uma realidade que vejo não só no BCG, mas em vários dos clientes com quem trabalho, de que as equipes estão cada vez mais multidisciplinares.
7. Há muitas diferenças entre a forma como consultorias internacionais brasileiras atuam e a forma como grandes grupos, como o BCG, atuam?
Acho que as principais diferenças estão no porte dos clientes, mas isso não é uma regra, e na possibilidade de fazer projetos internacionais ou acessar experiências de fora.
O BCG tem uma equipe global que faz gestão do conhecimento (teórico e prático) gerado pelos escritórios no mundo todo.
Isso nos permite acessar soluções aplicadas em outros países e, se for pertinente, adaptá-las para a realidade de empresas no Brasil. Esse “repositório” de soluções e de boas práticas global com certeza é um diferencial.
8. Algum outro insight ou recomendação que você daria para internacionalistas em formação ou recém formados?
Estar na universidade é uma oportunidade única para aprender não só sobre o que nos interessa intelectualmente, mas também para desenvolver habilidades que serão úteis no futuro e testar diferentes caminhos. Meu conselho, portanto, é, na medida do possível, não se restrinjam ao currículo do curso. Busquem matérias/cadeiras de outros cursos para complementar a formação, participem de projetos e oficinas, engajem-se nas empresas júnior., diretórios acadêmicos, pesquisa e projetos sociais. Isso expande o horizonte de possibilidade e ajuda a decidir o que você quer fazer daqui para a frente (além de dar um up no currículo).
9. O que você diria ser essencial para quem está na graduação e quer atuar no setor privado?
Perseverança, para mim, foi muito importante no início. Como na época Relações Internacionais era um curso que poucas empresas conheciam, fiz muitos processos e entrevistas antes de conseguir meu primeiro estágio e, depois, meu primeiro emprego efetivo. Então, a mensagem que eu quero deixar é que a experiência no setor privado tem sido muito boa, mas abrir portas no começo pode ser trabalhoso.
Busquem se melhorar ao longo do caminho para estarem preparados para as oportunidades quando elas aparecerem.
E aí, gostou do conteúdo? Ficou com alguma dúvida sobre carreira em consultoria ou no setor privado? Quer sugerir um tema para nossos próximos posts?
Então deixa um comentário, vamos adorar saber tua opinião!
Autoria: Glaucia Noronha, consultora sênior no BCG.
Edição: Giovana Pertuzzatti Rossatto, Diretora de Marketing na Atlântica Consultoria Internacional.
Comments