Pandemia, mudança de hábitos, consumidor mais consciente: entenda como as preferências dos consumidores interferem no desenvolvimento sustentável e como isto reflete no comércio internacional.
Nesse post vamos te mostrar porque as organizações tendem a se posicionar de maneira mais sustentável frente à mudança nos padrões de consumo, e como esta situação é uma oportunidade para os produtos da agrobiodiversidade - a chamada cadeia regenerativa de valor, no Brasil.
Nossa convidada é a Consultora de Inovação Socioambiental, Andresa Catarina Wendt, bacharela em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela atua na Equipe de Projetos de Regeneração e Promoção da Biodiversidade da Ecofazenda Costão da Ferrugem no litoral de SC.
O papel do consumidor no desenvolvimento sustentável das organizações
O atual cenário de pandemia serve como uma oportunidade de redesenhar o capitalismo de uma forma socialmente menos agressiva, como colocado pelo professor André Cunha, mas também ambientalmente menos predatória.
Se as tendências futuras para o mercado de produtos sustentáveis já eram uma aposta, agora elas se tornaram sinônimo de preferência. A preocupação com a sustentabilidade e o impacto ambiental têm se tornado prerrogativa para a sobrevivência das marcas, uma vez que estão se mostrando como condição na hora de um cliente optar entre um produto ou outro. Isto tem aumentado o apelo para que marcas tradicionais incorporem práticas justas e ambientalmente corretas, levando-as a repensar o seu posicionamento para ofertar produtos e serviços.
Não é de hoje que se discute o impacto do papel do consumidor no desenvolvimento sustentável das organizações e a atual crise só reforçou isso. A crise da COVID-19 acentuou as discussões sobre os impactos socioambientais acarretados pela dinâmica do atual sistema econômico. A sensibilização e o maior nível de consciência por parte dos consumidores impacta diretamente no modus operandi das organizações.
Para as empresas e negócios que querem se diferenciar dos seus concorrentes, tornou-se imperativo contribuir ativamente com práticas regenerativas que causem impacto positivo na natureza e na sociedade. Estamos inseridos em uma dinâmica econômica interdependente, em que as alterações por parte da demanda exigem adaptação pelo lado da oferta. Agora, mais do que nunca, as organizações buscarão inserção dentro das cadeias regenerativas de valor, dispondo de produtos e serviços que tenham em sua origem a promoção do bem-estar social e ambiental.
As cadeias de produção da agrobiodiversidade brasileira
O Brasil é um dos principais produtores agrícolas do mundo. O país está entre os 20 maiores produtores de alimentos. Dos 63.994.479 hectares de área cultivada no Brasil, apenas 750 mil são destinados à produção orgânica, o que mostra as grandes potencialidades que o país apresenta para a transição agroecológica. A cadeia regenerativa de valor, de base camponesa, é responsável por gerar emprego e renda e promover a biodiversidade, além de possuir maior valor agregado de mercado.
Qual o modelo mais necessário para a sociedade brasileira? (Dados do IBGE | Fonte: Escola Milton Santos de Agroecologia).
Os produtos do agro brasileiro têm alta classificação e desempenham um papel importante para o país. As exportações brasileiras aumentaram muito nos últimos anos, e foram responsáveis por mudar o status brasileiro de importador de alimentos para exportador. A possível crise de desabastecimento internacional pode favorecer ainda mais as exportações brasileiras, dada a depreciação do real frente ao dólar. Isso possibilitaria a geração de superavits na balança comercial.
Regeneração e mercado internacional
As mudanças nos padrões de consumo e a depreciação do real frente ao dólar se mostram como uma oportunidade para a agrobiodiversidade brasileira no exterior.
A demanda dos consumidores por produtos de marcas que se posicionem de forma sustentável cria oportunidades para a inserção dos produtos do segmento nos mercados internacionais. O Brasil já lidera a exportação de commodities agrícolas e as evidências apontam que o espaço da pauta comercial que é ocupado hoje pelos produtos da cadeia agrícola convencional cederiam um espaço cada vez maior aos produtos das cadeias regenerativas de valor.
Os produtos da agrobiodiversidade brasileira estariam dentro do chamado espaço operacional seguro, que descreve uma estrutura de limites planetários baseados nos Objetivos Globais do Desenvolvimento Sustentável. A Economia Donut é um conceito que descreve isso, se apresentando como uma alternativa ao crescimento a qualquer custo e mostrando que economias prósperas estão situadas dentro das fronteiras sociais e planetárias.
No Brasil não faltam iniciativas que possam atender a esta nova demanda de mercado internacional. Um dos exemplos é o da Fazenda Estância da Ponta que concentra-se na regeneração de solos e no apoio à biodiversidade local no Rio Grande do Sul, mediante um sistema agrícola inovador que integra pecuária com o cultivo de soja, arroz e pastagens. Outro exemplo é a Fazenda FarFarm, no Pará. Lá a produção de algodão em sistema agroflorestal atende à indústria da moda e cria oportunidade de renda para os agricultores, além de reduzir as áreas desmatadas.
A Fazenda Tropicalia, em Minas Gerais, é outro exemplo. O espaço da Fazenda busca ser uma alternativa mundial para o paradoxo da monocultura, integrando a produção de café com outras culturas em um sistema de ganhos de curto, médio e longo prazo, mitigando as pressões agronômicas, ambientais e econômicas que os cafeicultores sofrem. Por fim, mais um exemplo de sucesso é o da Fazenda da Toca, responsável por uma produção biodiversa em larga escala, que vai desde a produção de ovos, passando pelo leite, grãos e alimentos. Tudo produzido de forma orgânica em uma propriedade de 2.300 hectares.
A agrofloresta tem um papel fundamental para ajudar o mundo a adotar agricultura sustentável e contrastar as mudanças climáticas, de acordo com uma conferência de alto nível organizada pela FAO (Fonte: Unplash | Martin Oslic).
A FAO lista vários exemplos de como a diversidade pode criar interações benéficas. Por exemplo, com o aumento da agrobiodiversidade brasileira, teremos sistemas:
mais produtivos e menos vulneráveis a eventos extremos;
que promovem a segurança alimentar;
mais resistentes às flutuações de mercado;
que trazem ganhos nos níveis ambientais, sociais e econômicos.
A crença de que a natureza e a agricultura podem cooperar em vez de competir é o que move organizações como a ReNature no fomento e apoio a agricultura regenerativa (Fonte: Unplash | Francesco Gallarotti).
Dito isto, a conjuntura atual se apresenta como uma possibilidade para que possamos utilizar este período para estimular a renovação e o pensamento inovador. A resiliência, termo que se originou da ecologia e diz sobre a capacidade de um sistema lidar com as mudanças e continuar a se desenvolver, é propícia para o presente momento. A conquista de mercado por produtos sustentáveis permite o fomento da agricultura regenerativa, o que implica no aumento da resiliência do nosso sistema. À medida que a agricultura inovadora ganha espaço, isto contribui para a transformação do nosso sistema de produção global.
Você é produtor rural, é empreendedor socioambiental ou tem um negócio comunitário sustentável e quer somar ao movimento de mudança e impacto global e não sabe como?
Nós podemos te auxiliar no acesso a oportunidades no mercado internacional para o seu produto e/ou serviço. Vem conversar com a gente!
Autoria: Andresa Catarina Wendt, Consultora de Inovação Socioambiental e Nômade Digital.
Instagram: @andresawendt
Edição: Giovana Pertuzzatti Rossatto, Diretora de Marketing na Atlântica Consultoria Internacional.
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